Bruxaria: não siga conselho errado!


Você estuda, lê, vivencia, tem um grupo, pratica sozinho, tem amigos pela internet, tem um vizinho neo-pagão, participa de rituais públicos, amarra fita roxa no pulso, estuda tarô, chora no final de Harry Potter, tem uma horta em casa, celebra esbás, montou um coven, assiste palestras, faz cursos, ministra cursos, escreve livros, conversa com outros bruxos e pagãos por aí, foi iniciado em uma tradição, em várias, não foi iniciado em nenhuma, tem seus dons, cozinha, cultiva ervas, prepara poções, sente o vento no rosto.

O seu caminho, a sua verdade. Encontre o que for legítimo para você. Se já encontrou, incentive isso em outros buscadores. Lembre-se que a busca nunca termina.
Guerra de bruxos e bruxas JÁ DEU, gente. Nosso site não está interessado em brigas. É a visão de quem escreve aqui, não a verdade universal (e nem poderia ter essa pretensão). Então vamos encarar tudo o que lemos em sites, blogs, livros, como a visão de quem escreve, e que é legítima para ela. Um aprendizado do ponto de vista do outro, que sempre é diferente do nosso, pois pessoas diferentes são em tudo diferentes, mesmo com pontos em comum. Logo, toda contribuição é válida, tira-se algo. Se não concorda, não fique esbaforido - apenas siga seu próprio caminho, sua legitimidade. Cada um, cada um, e todos são importantes. Não deixe que nada, nem ninguém, fale mais alto que a sua voz interior. Nunca. Pode ser? Mesmo que, amanhã, ou daqui a 30 anos, você mude completamente de opinião. Esse é o resultado de estar aprendendo sempre. Mas seja leal ao que você acredita, e deixe que os outros também o sejam. Em pleno ano de 2011, discutir o que uma pessoa faz, se é certo ou errado, ou um caminho mais válido que o outro, leva ao que, exatamente? Que cada um tenha suas paixões e responsabilidades. A arte mágica é antiga. Está acessível a todos, de uma forma ou de outra. Pax et lux.

Bruxaria tradicional para iniciantes


Reproduzo aqui um excelente artigo retirado do blog Diablerie.
O que chamamos hoje de Bruxaria não possui necessariamente relação direta com os cultos pré-cristãos, como se pode facilmente assumir com a onda de textos sobre bruxaria dizendo o contrário. Na realidade ela surgiu a partir da crença e constatação de que algumas pessoas conseguiam manipular realidades. Isto poderia estar ligado a um determinado culto, embora pudesse subjazer a um facilmente.

Um xamã ou sacerdote, por exemplo, podia receber uma iniciação dentro de determinado culto onde se previa a ignição de um poder que ocorria ou florescia naturalmente em algumas pessoas e que, não necessariamente, pertenciam ao culto em questão, ou ainda, não estavam em posição de receber este reconhecimento sacerdotal.
Traduzindo isto para uma linguagem moderna, podemos dizer que um padre possui poder de abençoar conferido a ele através um corpo maior de sacerdotes que volta ao tempo na figura de um padre fundador, presumivelmente alguém que possuía este magnífico poder. Por outro lado, outras pessoas também possuem este poder sem a necessidade de uma ordenação ou filiação, bem como outros dons que não seriam significativos ou aceitáveis a um padre. Um sacerdote de uma religião é feito através de um processo de transmissão horizontal, humana.
Um bruxo, por uma transmissão vertical, direta e espiritual/sobrenatural. O Bruxo não precisa de aprovação de seus pares e não precisa sequer trabalhar em grupo, quando o faz, juramentos sagrados são feitos para preservação de um vínculo de absoluta confiança e grandeza gerada pelo amor fraternal – um reconhecimento de humildade perante os Mistérios, dos quais ninguém é portador absoluto. Estes pactos nada têm a ver com um ‘poder bruxo’ transmitido, pois isto é algo que nasce com a pessoa, e no máximo, criam uma sintonia com aquela trabalhada por uma determinada ‘linhagem’.
Eis a diferença entre o ‘sacerdote de uma religião’ e um ‘bruxo’: no caso do segundo, a sintonia natural se dá pela observação da natureza cujas celebrações são constatadas na realidade observável, nas percepções culturais da terra em que pisa ou mesmo da terra com a qual se possui conexão.
Como exemplo, poderíamos dizer que um bruxo não celebraria o milho onde se planta feijão, nem celebraria a natureza onde ela é impedida de se expandir. Uma bruxa conhece o ‘espírito’ do milho e o do feijão, ouve o clamor da terra em seu ritmo de eterna expansão enquanto o ‘sacerdote de uma religião’ trabalha com uma realidade menos local e mais idealizada.
Não discordo das reclamações sobre a marginalidade das práticas, mas foram justamente as difamações que mantiveram as bruxas vivas no imaginário popular. ‘Envenenadora’, a bruxa sempre foi um ser amoral e, portanto, imortal, pois é uma das únicas personagens míticas que admitem a conexão divina/sobrenatural livre de culpa.
Os praticantes da chamada ‘bruxaria tradicional’ nem sempre possuem uma conexão imediata com a tradição, embora suas vidas só encontrem rumo quando aprendem estes valores ‘na forja’ da realidade diária. Nem a ‘Tradição’ está invisível para qualquer um que tiver ‘olhos para ver e ouvidos para ouvir’. A ‘tradição’ se desdobra ao advogado, santo, místico, mago ou bruxa igualmente e sem distinções. É a nossa capacidade de mudarmos a realidade à nossa volta que determina o quanto estamos afinados com os fundamentos da tradição.
A Bruxaria ‘Tradicional’ passou a existir como um rótulo de identificação, justamente quando houve a necessidade de se preservar o espaço das práticas que eram consideradas heréticas (de manipulação de forças ‘sagradas’ ou ‘profanas’ a fim de se alterar realidades). A institucionalização de práticas sacerdotais que envolviam práticas heréticas sempre correu na contramão do que bruxos tradicionais faziam e, portanto, é justo que clamem o direito de reconhecimento de sua minoria completamente desprovida de interesse em proselitismo.
A Bruxaria era ‘pagã’ na acepção da dependência do campo, independente se Apolo passava a ser chamado Cristo. Bruxos tradicionais sempre estarão ligados a uma pequena área geográfica, pois é dali que partem seus gênios e elementos que são, em última instância, seus parceiros espirituais. Portanto, é justo afirmar que Bruxaria não é religião, mas uma forma de encarar os desafios da vida no campo, de certo ponto de vista que parte tanto do mundo celestial quanto do subterrâneo, lar dos mortos poderosos que jamais devem ser esquecidos.
Quando se fala sobre bruxaria familiar, existem aqueles que chegam ao absurdo de plantar ‘ordens familiares’ para justificar a tradição, mas não há qualquer base lógica ou histórica para fundamentar tal premissa. O que temos historicamente é a criação das guildas ligadas às ocupações da época, cujas liturgias eram legadas aos sucessores. Assim começamos a falar do nascimento da maçonaria (dos profissionais construtores) e de alguns grupos, como os ferreiros, sapateiros, etc.
Na resistência do velho cristianismo ao novo cristianismo, vemos surgir os satanistas com suas missas negras e as bruxas com seus ‘sabbaths’ – festejos com boa comida, boa dança e liberdade sexual – real ou imaginária, mas certamente desejado em plena época de castração social, moral e religiosa. Foi desta época em diante que pudemos ouvir relatos sobreviventes do sincretismo pagão dentro do cristianismo.
Certo autor chega a manipular a história, ligando a bruxaria tradicional à formação de base política para movimentos separatistas, mas isto ultrapassa a barreira do razoável.
Na mais absoluta realidade, os bruxos ‘não wiccanos’, tradicionais só saíram do armário depois de Gardner, antes disso não precisaram levantar qualquer bandeira para chamar a atenção sobre si. Neste aspecto, Gardner foi fundamental, assim como havia sido Crowley, num âmbito mais amplo, social, mais do que religioso ou mágico. Bruxos nunca estiveram ligados a movimentos separatistas, quando passaram a se unir sob o rótulo “Bruxaria Tradicional” tiveram o propósito único de não deixar certas práticas regionais – culturais - morrerem. ‘Bruxos’ nunca se uniram para cair na armadilha de ‘destruir a oposição’, que faz nada mais do que afirmar seus valores.
O mesmo autor ainda faz distinção entre uma “polêmica... Bruxaria Tradicional Tardia”, e ainda os classifica ignorantemente de “...adicionar outros conceitos como maçonaria, satanismo como repúdio ao Catolicismo e Magia Cerimonial.” Todas as ligações e separações mencionadas são ilusórias, criadas pelo autor do texto, tal polêmica sequer existe ou existiu. O satanismo é um movimento cultural/cúltico por seu próprio direito, pode ser datado da resistência ao protestantismo, não ao catolicismo ou o cristianismo como um todo, exatamente na época em que se perseguiam as heresias dentro da própria Igreja e que culminou na morte de muita gente.
A linguagem dada às práticas e mistérios sempre variará para atender as necessidades de quem as opera. Dizer que a bruxaria não recebeu influências diversas de acordo com o espírito do tempo é absurdo. Os ‘valores do campo’, por exemplo, são para quem mora no campo, que planta, colhe e se alivia quando a chuva cai. Para que estes valores migrem para a cidade eles tem que falar outra linguagem, como fazem os sacerdotes das religiões neo-pagãs. Para o bruxo erudito, é comum que suas expressões sejam, por exemplo, de fundamentação mito-poéticas.
Bruxos tradicionais não ultrapassam a barreira do que são. Há quem critique os sacerdotes neo-pagãos que honestamente têm buscado se aprofundar nos valores que juram defender, e, portanto, como sacerdotes de sua religião, velha, nova ou reconstruída, devem ser respeitados como tal. Certos bruxos modernos determinam que se tornaram sacerdotes de muitos deuses de diferentes panteões, e é aí que confusões ocorrem, ainda assim, existem grupos de orientação diferente que conseguem ser coerentes em suas direções. Na realidade, isto nem é de interesse do bruxo tradicional, que trabalha com algo subjacente e independente de máscara – usando-as diversas vezes muito mais como uma provocação social ou porque determinada prática lhe foi passada daquela forma. Se aqui comento, é justamente para desmistificar ‘culto de bruxaria tradicional’ pretendendo um sacerdócio que ‘non ecziste’, como diria o infame QuevedoUm ‘bruxo tradicional’ nos moldes do campo pensa assim: “Se você adapta um panteão, você adota uma cosmovisão, se você adota uma terra, você adota a si mesmo.”
A bruxaria tradicional não precisa usar subtítulos imbecis como “a mais Antiga”, “ancestral”, “tribal”ou “poderosa”, nem precisa sair de seu isolamento, a menos que se queira arrebanhar pessoas, por um insano proselitismo em nome de quantidade ao invés de poder nato. A bruxa tradicional se ‘codifica’ com os novos tempos porque não é engessada, e sua fluidez foi justamente o que permitiu que a tradição se mantivesse viva apesar de tudo. Bruxaria Tradicional não é religião!
Como tal, quem buscar rituais coletivos deve ir consciente que isto não é tradicional, pois o que até hoje consta de grupos que trabalham assim é que jamais colocariam um estranho em um círculo de confiança, o que é considerado - no mínimo - irresponsável. Você vai reconhecer a quem buscar contatos ou informações através dos seguintes conceitos:
- É irrelevante o ‘uso de panteões não europeus’. É irrelevante qualquer religião. O que importa é o que se desenvolve marginalmente a ela.
- Práticas cerimoniais, teatrais e complexas: Se esta é a linguagem escolhida, não há limite, regra ou lei que limite.
- Símbolos geométricos/ matemáticos – Ex.: Quadrado, Estrela de Salomão, etc... – são usados extensivamente, como é provado historicamente pelos relatos da época da inquisição, onde várias ‘bruxas’ seriam portadoras de ‘almanaques’. Estes almanaques divulgavam quadrados, estrelas, o que quer que fosse. O bruxo que não experimentava não era ‘o sábio’, assim como em nossos dias.
- Elementos/ Conceitos de outras culturas, como por exemplo Chakras, Karma e Dharma, foram adotados por religiões e até por terapias alternativas. Novamente, é uma questão de linguagem. Portanto, seu uso na bruxaria é relevante para quem assim escolher. Contudo, um bruxo tradicional não descartaria a origem e contexto do termo tão facilmente.
- Bruxos tradicionais não se envolvem em ativismos. Pessoas se envolvem em ativismo.
- Qualquer filiação a uma instituição centralizadora (Associação/Federação/Conselho de Bruxaria) deve ser vista com alguma suspeita. Bruxos não se submetem ao escrutínio alheio para serem reconhecidos como tal. Reconhece-se o bruxo através do valor de seu conhecimento, caráter ou da prova de seu poder através de resultados obtidos.
Por fim, gostaria de ressaltar que o que foi escrito aqui de forma muito simplificada é o que encontra comprovação histórica, e como certa vez um Sábio da Arte disse, há “história da magia e a magia da história”. Cabe a cada um escolher seu caminho.

Bruxaria moderna, ou Wicca

A Bruxaria Moderna, conhecida como Wicca, nasceu na década de 1950 com Gerald B. Gardner, um bruxo inglês. Gardner acreditou que a Bruxaria estava fadada à extinção e que a Wicca seria o "reavivamento" da Bruxaria. Dessa forma, dito iniciado por bruxas tradicionais, ele resolveu dar uma nova roupagem à Bruxaria e trazê-la à tona.

Porém, a Wicca não é sinônimo de Bruxaria, pois além desta, conta com muitas outras influências (Thelema, Maçonaria, Magia Cerimonial). De qualquer forma, quando a última lei anti-Bruxaria foi revogada na Inglaterra, Gardner lançou seus livros de não-ficção a respeito, o 'Bruxaria Hoje' (Witchcraft Today, 1954) e 'O Significado da Bruxaria' (The Meaning Of Witchcraft, 1957).

 Gardner sempre foi bastante criticado por bruxos tradicionais, sendo acusado de deturpar a Bruxaria. Até hoje, há aqueles que se dividem em pró-gardnerianos e anti-gardnerianos. Essa discussão, no entanto, é indiferente para os iniciados na tradição.

De qualquer forma, devemos aceitar o fato de que, se não fosse pela divulgação de Gardner, muitos não estariam aqui hoje. Talvez nem tivéssemos acesso às dezenas de livros, grupos, festivais públicos e amizades pagãs via Internet. Sejam quais forem as intenções de Gardner, ele conseguiu trazer a Bruxaria - ou pelo menos uma ideia de Bruxaria - de volta para o mundo.

O que é Bruxaria

A Bruxaria hoje é um ofício que se utiliza da magia natural para obter fins específicos.

Existem diversas formas de práticas e variadas ramificações dentro do que chamamos de Bruxaria,  por isso fica extremamente complicado criar uma definição generalizada, mas vamos tentar estabelecer algumas diretrizes.

A Bruxaria tem tendência pagã. Não todas as bruxas e bruxos necessariamente são pagãos. A Bruxaria desenvolveu-se marginalmente em diversas culturas e diversas épocas ao redor do mundo. Nunca existiu algo unificado. A história de que a Bruxaria é uma "antiga religião que sobreviveu à Inquisição" é equivocada.

Por isso, podemos falar do que é a Bruxaria hoje e identificar crenças, cultos e práticas similares ao longo da história da humanidade. Esse é o motivo pelo qual não poderíamos listar em um só lugar todas as variações, pois tal feito é impossível. Podemos distinguir duas vertentes distintas da Bruxaria: a Bruxaria Tradicional e a Bruxaria Moderna.

O nascimento da Bruxaria Moderna se deu na década de 1950, através de um bruxo inglês chamado Gerald Gardner. Ele foi o criador da Wicca e a mostrou para o mundo. A Wicca foi a proposta de Gardner para o reavivamento da Bruxaria. Praticamente tudo o que se lê hoje sobre Bruxaria é, na verdade, o testamento wiccan que Gardner deixou para a humanidade.

O que veio antes é chamado de Bruxaria Tradicional, simplesmente porque é mais fácil definir assim. Tradicional é, no entanto, tudo que for constituído por uma tradição.

 O que acontece é que, a partir da Wicca, a ideia de Bruxaria foi se popularizando, especialmente porque as pessoas viam nela uma forma de religiosidade totalmente diferente das religiões convencionais. Muita gente começou a pesquisar e a escrever sobre o assunto. Nosso site tenta, na medida do possível, englobar todas as visões que podem ser consideradas "bruxaria", mas sempre existe o medo de beirar a superficialidade. Por esse motivo, indicamos humildemente nos textos quando existirem diferentes visões, assim como links para outros sites.

O que é ser um(a) bruxo(a)?

Texto traduzido por Nicholaj de Mattos Frisvold, publicado originalmente aqui.
“Defina-me – e eu lhe escaparei...” - Liber Combusta

Não importa o quanto tentamos definir o que é “bruxaria” – ela ainda preservará seu mistério – e acredito que esta é a forma que reconhecemos a presença da estirpe tradicional que constitui as artes e ofícios da bruxaria. No centro do que define uma bruxa, encontramos a marca e o sangue. Não importa o continente ao qual nos voltamos, descobrimos que o ícone da bruxa está mergulhado em alteridade. Ela, ou ele, é aquilo que escapa das definições, e através desta pobreza lingüística que a tendência ocidental seja a de pintar a bruxa com pinceladas diabólicas e a tinta das noites esquecidas, e de fato, a bruxa é uma filha da noite - pois é na noite, sob a regência e sopro da Lua que o sangue antigo é vivificado. A idéia de que a bruxa ou feiticeira seja alguém que não é deste mundo, algo desregrado, indomado e potencialmente destrutivo é encontrado da Noruega à África. Podemos exemplificar isso pela prática do seiðr, uma arte praticada pela Volva - e comumente entendida como um conhecimento possuído pela vanir Freya. Na verdade isso não é verdadeiro, Freya foi ensinada por Hyrrokin – ou Heid – quem a iniciou nestas artes - e, através disso, vivificou o sangue feiticeiro de Freya. O sangue aqui em questão aqui é o de Ymir, o primeiro gigante que foi abatido e transformado em criação. A “bruxa” ou fjølkynnig nasceu de seu suor e sangue - uma raça pré-titânica anterior aos deuses dos homens mortais. Da mesma forma, no Japão, China, assim como Rússia e Europa Oriental, a bruxa e o feiticeiro são constantemente associados com Dragões e estrelas cadentes – algo estranho e fora da ordem solar. Da mesma forma encontramos as “bruxas” na África Ocidental descritas no corpo de ensinamentos de Ifá, ao entrarem no mundo através do engano e trapaça - mas que prosseguem definindo sua função no mundo - que é ligada à noite, à calamidade, mistério e os pássaros da noite... Em todas essas culturas o vôo noturno é um tema comum, seja para resgatar colheitas danificadas, seja para curar ou prejudicar a sociedade. O vôo noturno é possível por causa da estirpe especial da bruxa – um legado atribuído por muitos ao Senhor Caim e a hoste de anjos caídos que definem a bruxa para além da ordem cívica. Por conta disso, a “bruxa” sempre perceberá o mundo de forma diferente, porque a bruxaria é uma interação dinâmica vívida com os espíritos que habitam o mundo, para bem e para o mal. Isto desafia a ordem solar e qualquer tentativa ordinária de tornar o volátil algo fixo. A Arte das Bruxas se rebela frente ao estático, tal como os ensaios desconectados do folclore e da reconstituição de costumes pagãos. Bruxaria, no sentido tradicional, é um dragão volátil voando através da noite prateada. É aquele “outro” que é visto no canto do olho e o abraço noturno de toda a alteridade que chama o sangue a ser vivificado.

Marginalização é consequência


E chega um novo “Dia das Bruxas”, época do ano em que o site é muito, muito visitado. Não existia outro dia senão hoje para dizer que ele está de volta, mas ainda se estruturando. A partir de agora, ele terá seções como em uma revista, como você pode conferir na aba “Blog”. A “Enciclopédia” continua, mas já aviso logo que será inteiramente reformulada. Na aba “Fala-se de”, você confere assuntos diversos que dizem respeito à Bruxaria no geral. “Lugares” dispensa apresentações. E, em “Colunas”, as colunas do blog, escritas por outras bruxas, bruxos e simpatizantes.

Todos os posts estão sendo revisados e terão tags para ficarem mais fácil de serem encontrados ao buscar por algum tema. Nosso sistema de busca, no entanto, continua funcionando melhor que qualquer menu e pode ser conferido à sua esquerda. Nesse período de reestruturações, melhor utilizá-lo.

Pude observar, no passar dos meses, movimentos curiosos com relação à Bruxaria no Brasil. Muito foi dito (alguns insistentemente, como se a necessidade de provar algo fosse mais importante que o algo em si) e as pedras continuaram rolando. (In)felizmente, não frequento rituais públicos, palestras, eventos do tipo, simplesmente porque o tempo e a distância não mais me permitem. Até me interesso, mais para saber o que está acontecendo, sendo dito, discutido. Mas não consigo acompanhar. E aí eu cheguei à conclusão que, como vocês perceberão, norteará este site daqui em diante – a Bruxaria tem uma tendência a se marginalizar. A bruxa, em si, tem essa tendência. Já escreveria Rae Beth, em seu livro “A Bruxa Solitária”:
“Que eu seja como algo que tece o pano na floresta, profundamente escondida. Que eu possa fazer o meu trabalho sem interrupção. Que eu seja uma exilada, se é este o sacrifício.”
Covens e comunidades sempre existirão, pois viver junto faz parte da humanidade, mas viver sozinho também – interiorizar e buscar lá dentro o que cada um tem de essencial também faz parte da nossa natureza. Por que fugir disso? Por que lutar contra isso? Não existem motivos. Cada um tem suas razões e estudos e conclusões que, obviamente, não podem ser sentidos por outras pessoas, pois são pessoas diferentes. Deixe a verdade fluir, então. Nada de tentativas exaustivas de desmistificação de algo que nem público era para ser. Mas todas as outras coisas, a nossa história, a filosofia, os conhecimentos herbários, do cotidiano, e demais escritos publicados podem ser discutidos pois são a base do conhecimento tradicional, apesar de não ter o fio que os liga, que é passado sem palavras.

Quando o Bruxaria.net foi ao ar pela primeira vez, no inverno brasileiro de 2004, ele tinha seu “slogan” como “a lua brilha para todos”. E sim, ela ainda brilha. Mas será que todos percebem o seu brilho? Será que todos vivem sob a escuridão? A resposta certamente é não.

E nem é para ser de outro jeito.

Estamos de volta.

Samhain, 2011